sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Eu Perco Tempo ( pelo ócio criativo não programado)


O Designer gaúcho Marcelo Bohrer invadiu recentemente nossas telas, mentes e tempo com o seu amplamente trabalhado, publicado e divulgado Nadismo. Repercussão merecida por sua qualificada capacidade de marketing. O Nadismo nos brinda com a idéia do nada fazer, um momento de descanso, nulidade física e mental em benefício do corpo e do inconsciente. Todos sabemos da necessidade do repouso, da pausa em meio a agitação. Para isso o sono, a sesta. Criou-se o Clube de Nadismo: “Querido, amanhã preciso do carro das 19:00 as 20:00 por que tenho Grupo de Nadismo; tomara que consiga depois chegar a tempo na pós.” Bohrer massificou, estandardizou, cronometrou e nos vendeu uma capacidade inerente ao ser humano. O intervalo revigorante nas atividades físicas e mentais. Conseguiu nos dizer o que sabíamos, empurrar a idéia de que podemos descansar por um segundo, um minuto, tornou isso sinal de status numa sociedade moderna onde tempo é dinheiro. “As 10:00 tenho encontro do grupo de nadismo, podemos jogar paddle depois.” Bohrer esvaziou o ócio criativo. Você terá que parar naquela determinada hora e fazer nada! Isso já é fazer algo!!. Quando subimos uma ladeira não programamos parar após o 300° passo porque nele estaremos cansados. Não programamos assim nossas vontades. Se saímos de uma reunião preocupados com algo e somos obrigados a esvaziar a mente e paralisar o corpo em determinado tempo a partir de uma hora determinada, temos aquela sensação de quando pequenos nossa mãe mandava desligar a TV e dormir. Não dava certo, ficávamos imaginando um milhão de brincadeiras e maldizendo quem inventou a hora de dormir. Nossa pausa mental ocorre de forma natural a qualquer momento e assim deve ser. Não ha melhor lugar para esvaziar a mente e relaxar o corpo( e também esvaziar o corpo, hehe) do que um esticada no banheiro; chegando em casa, tomando um banho e se estirando no sofá; esperando a esposa ou os filhos no carro ouvindo uma música. São momentos que nos damos. Não precisam ser programados. Na forma pregada pelo NADISMO a pausa grupal toma caráter de religião, de obrigação, perde-se a essência principal do momento, que é a liberdade ( de pensamento).
No ócio corriqueiro a mente tem liberdade de correr solta, criar, despertar idéias, elucidar enigmas, compreender problemas, solucionar e amainar angústias.
Dizem que os maiores insides de Einstein ocorreram quando relaxava pachorrentamente no sofá de sua casa, sem alguém para cronometrar o tempo ou estabelecer condições para aquela situação.
Não é de todo sem mérito a idéia porque servirá para refrear os ímpetos de muitos viciados em trabalho e inimigos do relógio; mostrar que se pode parar por um momento e que desse instante pode surgir um bem estar. Mas que a partir desse ponto corram por conta própria, não programem o repouso.
Acho muito mais importante o que considero a “minha perda de tempo”. Faço meu trabalho, desenvolvo minha atividade, me aperfeiçôo, mas presto atenção nas nuvens, na chuva, no vento, nos insetos, nas luzes do por de sol, nas pessoas. Olho para os lados em meio a agitação da cidade procurando coisas que ninguém percebe e que podem se tornar interessantes sobre uma nova ótica. Interrompo uma viagem para esticar as pernas e sentir a brisa. Paro para conversar com um idoso.
A interrupção de qualquer atividade contínua por um momento diverso, mesmo que não caracterizado pela imobilidade corpórea e mental, nos trás prazer e alivio momentâneo do stress ou monotonia.
Meu Nadismo é no sono, ali meu corpo relaxa e não tenho controle sobre minha mente. Para relaxar fujo da linha normal, padronizada socialmente, olho pro lado, afino a audição, busco o que não se enxerga porque quando não se procura nada, o todo se desnuda ante os olhos e mesmo inconscientemente absorvemos a vida.

Um comentário: